quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Conceitos


Alegoria: A alegria de brincar com legos.
Alienação: Atitude típica das hienas, de concordar de forma resignada, em ficar com a sobra daquilo que os leões deixam.
Antagônico: O que se opõe às antas.
Anti-semitismo: Ser contra tudo o que é pela metade ou parcial.
Alquimia: Carta para um gatinho de estimação que sumiu após ter tomado uma poção estranha.
Antologia: Reunião de muitas antas.
Apologia: Defesa de Apolo.
Bulimia: Um gatinho chamado Buli que come como um leão.
Calvinismo: Doutrina que afirma que alguns já estão destinados a ser carecas.
Compulsão: Munheca inchada de tanto contar dinheiro.
Depressão: Estado a que se leva o costume de andar muito depressa.
Diagnóstico: Aqueles dias em que você constata consigo mesmo que não sabe de nada...E nem poderá saber.
Diverticulite: Inflamação do órgão que produz o bom humor.
Dízima Periódica: Procedimento de dar o dízimo de vez em quando, contudo, infinitamente.
Dogma: do latin-do, Dog má; Uma cadela brava que não aceita estranhos.
Ejaculação Precoce: Comportar-se como um jacu antes do tempo.
Evangelical: Marca de um produto à base de cálcio, usado para branquear ou limpar uma fachada.
Estereótipo: Um tipo cujas tendências é de falar sempre as mesmas coisas, embora por canais diferentes.
Falácia: Estabelecimento de comércio dos remédios para língua.
Fenômeno: Acontecimento atípico que une os feios às belas num castelo qualquer.
Fornicação: Peixe assado em forno não convencional.
Globalização: Politização do mundo conforme a Rede Globo idealiza.
Grupo de Risco: Escola Estadual de pichadores.
Idiossincrasia: Maneira idiota de cada indivíduo reagir a uma azia.
Iluminismo: Filosofia desenvolvida na Rua da Consolação em São Paulo.
Incesto: Prática do basquete em família.
Inconsciente Coletivo: Desgovernado ônibus em que todos um dia vão entrar.
Inteligência Emocional: Micro-computador que chora quando perde a placa-mãe.
Monoteísmo: Doutrina que se propaga apenas por um canal.
Otimismo: Crença exagerada no time que torce.
Panteísmo: Doutrina propagada pela Rádio Jovem Pan.
Paradigma: Procedimento criado por Pelé na cobrança de pênalti, que se tornou um padrão universal para iludir um guarda-metas.
Parceria: Se não fosse impar dar sem receber.
Patologia: Doença que ataca os patos.
Pentecostal: Pente para os pelos das costas.
Pessimismo: Doença no pé que impede o movimento.
Pós-modernismo: Um ponto depois do Masp.
Proselitismo: Retórica da prosa-fiada para convencer alguém.
Psicagonia: Dor-de-barriga psicológica ao invocar entidades estranhas.
Reforma Protestante: Obra parada com a greve dos trabalhadores exigindo igualdade de tratamento entre os diversos cargos.
Terminologia: Terminal onde se tem acesso a todos os termos do mundo.
Transcendente: Transportadora de banguelas que atende fora das zonas de entrega.
Transtorno Bipolar: Patologia que adquire a pessoa que mora em Oiapoque e trabalha em Chuí.
Tripulante: Atleta praticante do salto triplo.
Vida Sedentária: Forma de vida em alguns seres, que morrem de sede, mas não levantam da cadeira para pegar um copo d´água.
Utopia: Um pintinho chamado Uto, que, quando crescer, botará ovos de ouro.
Deus: Verbo Dar no pretérito plural. Indica a ação de Quem deu generosamente muito de Si para os outros.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Aonde Jogarão Minhas Cinzas?


Esta pergunta me veio da noticia de que as cinzas de Scotty, - aquele tripulante da Enterprise de Jornada nas Estrelas, lembram? – irão para o espaço agora em outubro. Na verdade são as cinzas de James Doohan, pois o corpo de Scotty já desapareceu há mais tempo junto com o seriado. Contudo, o que é verdade aqui não interessa. Para os fãs, Scotty foi para o espaço.
Mas voltando à terra e à minha pergunta, passou a me preocupar onde serei jogado. Eu mesmo, não meus personagens. Poderia ser no espaço também, já que minha mãe sempre disse que eu vivia no mundo-da-lua. Aliás, no espaço não se joga nada; larga-se, se lança, se solta. É até mais bonito. Porém, como o preço da dimitil-hidrazina (combustível de foguete) anda em alta, melhor não me iludir. Mesmo se fizesse uma poupança desde já, quem é que me assegura que minha família não vá ser convencida de que isto é uma excentricidade, um capricho em detrimento de tantas necessidades, etc.? Mesmo porque, quietinho numa caixinha, já não teria tanta força de argumentação. Pior fatalidade: no momento de ser solto no espaço, por um desses acidentes de percurso, a caixinha escapasse das mãos do ente querido escolhido para a missão – pois aquelas roupas de astronauta atrapalham – e eu vagasse pela vastidão do universo, preso dentro de uma caixinha, com meteoritos tirando fina, pra todo o sempre.
Pode ser no mar. Do mar sempre tive medo. Na praia, quando entro no mar, nunca passo da cintura. Aliás, se me virem com água pelo peito, corram a me socorrer, pois estarei tentando me matar. Com o gesto de minhas cinzas jogadas em alto mar, com o réquiem das gaivotas e do zumbido do vento ao fundo, estaria dizendo aos familiares e poucos amigos presentes em tão inviável cerimônia fúnebre: a morte sempre vence o medo. Mas isso, acho que também não vou querer. A maré acabaria por me trazer de volta à terra; à areia. Então as crianças da classe média fariam seus castelinhos com os agregados das minhas cinzas, construindo e desconstruindo. Estaria simultaneamente em dois castelos a guerrear contra mim mesmo. Se ao menos ficasse em uma dessas fortalezas arenosas... Mas já viu criança deixar um castelinho em pé? Com sorte, uma parte de mim poderia ficar em exposição numa bela sereia, escultura de areia, de algum artista de praia. Poético, mas improvável.
O mato também é outra opção. Adoro o mato. Mas nessas épocas de queimadas, seria bem provável que seria cremado reiteradas vezes até minhas cinzas perderem sua cor cinza original atingindo um negro final inaquarelável. O ator Raul Cortez foi jogado no campo, em seu sítio em Porto Feliz. Quem sabe, eu também possa repousar no pé de um jequitibá, uma paineira centenária, mesmo entre umas marias-sem-vergonhas, para escândalo de uns mais moralistas presentes ao cortejo. Aí, quando uma florzinha meio acinzentada brotasse alegre, entre as lilás, laranjas, vermelhas, brancas... Minha netinha gritaria: “olha mamãe, o vovô todo açanhado no matinho!”.
Num Rio? Pode ser, mas também vai acabar no mar e depois na terra... Não vamos retomar essa estória. Talvez me espalhar a esmo por aí, sobre a cidade de São Paulo, com um teco teco alugado. Mas causaria desgosto à minha família se, vazada a noticia de tal ritual, as pessoas aterrorizadas com essa garoa funesta, passariam a varrer e lavar com asco seus quintais e telhados. Fora a probabilidade ridícula de cair sobre cemitérios, cometendo então minha derradeira redundância, e de todas cometidas em vida, repito, a mais ridícula.
Poderá, porque não, eu ser depositado em um cinzeiro comum. Sem cerimônia, sem gesto, sem poesia, sem epitáfio, sem nada.
Essas idéias todas me preocupam, por isso vou pensar melhor, antes que eu tome uma decisão precipitada da qual venha a me arrepender.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Banheiro de Sebo



Sou freqüentador de sebos. Para meu alívio, tenho constatado se tratar de folclore essa estória que só velhos aposentados e saudosistas tem o costume. Tenho visto muitos jovens, com os mais diversos interesses, fazê-lo. O sebo é o tipo de um limbo, onde almas estão aguardando por alguma salvação e outras, embora ainda sobreviventes, amargam o espaço na prateleira da danação eterna. E quando você entra então, sente que todas estão sofrivelmente a esperar um resgate; uma lembrança.
Feito essa parca defesa, vamos ao assunto. Postergo para um tempo maior e de maior inspiração para me aprofundar. Sabendo que se aprofundar em alguns temas, é entrar nos recônditos onde os ácaros, mais bélicos se mostram.
Neste que estou freqüentando no momento, algo de estranho se passa comigo no campo fisiológico. Como se houvesse um tipo específico de ácaro que ao invés de atuar nas vias respiratórias, o fizesse nas vias intestinais. Cientistas o chamariam de ácagarus relaxantis. Ou, há uma energia especial vindo de literaturas técnicas do assunto, cuja força sobrepuja a outras influencias. Ou também, a grave influencia das muitas edições em que o conteúdo é o próprio objeto do assunto ao qual me refiro. Enfim, fica aí uma pesquisa a se concluir.
O fato é que da última vez em que me atacou tal sentimento, não resisti a ele. Com força tamanha, como a tração das máquinas locomotivas que separam queridos que partem dos que ficam, assim me vi desistir dos Machados, Clarices e tantas queridas almas. Digo que não resisti, pois desta feita tive que de humilhação me vestir e chamando o Sérgio – dono do sebo – pedir para usar o banheiro, sem prefácios, mas com muitos agradecimentos. Não daria para chegar ao escritório. Mesmo porque, nesses momentos agudos em que o mais inadiável e importante dos afazeres se torna fútil tarefa, a distância entre o ponto acidental e o ponto ideal deve ser considerada; e rapidamente. É nesses instantes que temos compreensão de conceitos da física: A menor distancia entre dois pontos é infinitamente maior que as curvas do intestino delgado. A unidade anos-luz de distancia, também é percebida na prática. Anus-luz, se houvesse tempo para trocadilhos e se rir não fosse tão perigoso nessas horas.
O sebo está num sobradinho, desses sem recuos laterais, apertadinho e uma vez dentro é difícil identificar os ambientes do que fora aquela casa. Livros por tudo que é canto, revestindo as paredes em prateleiras pingentes, pilhas de literaturas no chão, nas mesas, ficando sempre uma brechinha mínima para se transitar, tão mínima que permite a um ácaro atravessar correndo de uma pilha a outra sem ser pisado. O dono parece um camaleão amalgamado com as estampas cor de pó, e é preciso uma certa concentração para achá-lo quando se entra. Nos fundos, - aonde me ocorrem os primeiros sintomas -
no que parece uma pequena copa, estão as literaturas nacionais, amontoadas numa pia velha encostada em prateleiras de metal que só não estão oxidadas por não haver espaço para troca de oxigênio. Mais ao fundo uma entradinha que leva a um cubículo escuro, ao qual eu não chegava por puro receio. A fantasia de qual literatura encontraria ali me assombrava. Porém, havia a esperança de se tratar de um banheirinho e talvez então, não fosse mister passar pela humilhação a qual já me referi. Qual valente que por uma missão nobre derrota guardiões horripilantes, fui. Disfarçando, mas decidido. Engano. Se houvera uma latrina ali, agora estava soterrada por livros, revistas e gibis. Um Super-homem em frangalhos parecia me dizer: “seja homem”.
Num piscar de olhos estava no piso de cima. Corredorzinho estreito, também recheado de livros antigos, técnicos e tudo. Um foco nevoado de luz me indicava a porta aberta do paraíso. Um cãozinho que corre ao encontro do seu dono não seria mais ligeiro do que eu ao adentrar. Passados os primeiros segundos, foi que me pus a reparar naquela decoração. Uma maravilha. Livros e revistas amontoados ao redor da louça e no desativado boxe; e o melhor, ao alcance das mãos. A noção do unir o útil ao agradável jamais me fora tão clara. Aqueles que gostam de ler e mais ainda nessas horas, hão de fazer coro comigo e exaltar, ao imaginar, tão poético lugar.
Perdido de um, perdido de dez. Valho-me desse jargão do futebol para contribuir ao explicar que, configurada uma humilhação, o negócio é relaxar. Daria no mesmo, ficar dois ou vinte minutos. Decerto o proprietário até esquecer-se-ia da minha pessoa, e só quando a válvula de descarga fizesse a velha tubulação estremecer as paredes com livros escorada, então se lembraria, sem, contudo, fazer conta do tempo.
Também há a advertência de que o muito tempo em tal exercício, favorece a dilatação varicosa das veias anorretais – já que estou no andar dos técnicos. Ou, as hemorróidas. Não estou aqui a desprezar quem assim teme. Até mesmo promovo esse perigo à classe dos perigos prazerosos. Infantiliza seus pensamentos quem julga não haver força no prazer e de não ser seus longos braços quem nos estreita a tais perigos.
O esposo ou esposa que trai seu conjugue, o faz pelo prazer momentâneo, embora tenha consciência que aquilo vai detonar sua vida, pelo menos por um tempo bem maior. O sujeito que coça freneticamente sua frieira, o faz pelo prazer louco que aquilo lhe trás, e nem quer saber, embora saiba, que aquilo vai maltratar severamente seus dedos.
Salto desse trem de divagações, para dizer que continuo respeitando àquela advertência, ainda que, até hoje nunca sofrera a fragosa conseqüência.
Voltando ao meu embevecimento: ao alcance das mãos e os mais variados temas, sem catalogação alguma; alcancei um de artes plásticas. Capa dura, fotos descoloridas, artistas que nunca ouvira falar... Mas me auxiliavam com o estilo barroco, art nouveau... Puxei um que me atraiu pelo tamanho; anatomia. Tentei procurar como funciona um intestino, a celebrar o casamento da teoria com a prática. Deixei de lado. Direito civil... Técnico em Eletricidade; magnetizado foi meu pensamento à imagem daquelas caveiras nas cabines de alta tensão; casa-de-força, para leigos. História... Astrologia. Será que astros exercem influência em tudo? Pensei no pobre Plutão. Na mitologia grega, era o deus dos submundos. Agora um deus anão. Deveria arrancar a folha e colá-lo à parede daquele submundo, mas nem espaço na parede, nem coragem em mim havia. Peguei uma enciclopédia. Observem que o critério é dos maiores para os menores. Do geral para particular. Tentei mais uma vez, ser eu mesmo, pano de fundo aos estudos. Procurei uma palavra, que não sei se feia, técnica ou aristocrática, mas era a que meu pai empregava quando eu era menino: evacuar. Ajudariam muito se naqueles tempos dispuséssemos de gírias como, passar um fax; libertar a marmota; escorregar o moreno, entre outros. Por fim, era a grande chance de um destrinchamento do termo. Mas nada. Joguei a obra – à enciclopédia, me refiro. Passei a relembrar que quando moleque, traduzia a expressão como um ajuntamento coloquial de palavras; resumo de uma frase assim: “... e vá cuar, menino!”. Mais tarde, sabendo que “cuar” não era nada, e colegiando, achei que tinha a ver com vácuo. Um ato para deixar um vácuo interno. Quando comecei a ouvir as notícias das atrocidades da polícia no regime da ditadura, abandonei tudo que já havia pensado e julguei ter meu pai, um homem simples, mas campeão de palavras cruzadas, feito confusão com termos: evacuar era então, abandonar uma praça de guerra.
Bem, foi o que acabei fazendo. Peguei minhas compras e evacuei. Não necessariamente nesta ordem.

os números - o dossiê

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

os números

terça-feira, 3 de outubro de 2006

poema politicamente incorreto

Parafraseando M L King:
O que me assusta não é o escândalo dos políticos
mas o silêncio dos crentes.
A igreja por vezes se torna um lugar tão espiritual que não há lugar para crítica, denuncia, uma oraçãozinha sequer pedindo justiça... Que dirá um grito tipo "raça de víboras!". Em que páramos anda nosso carater profético da denuncia contundente? E pensar que estamos, isto sim, orando agradecendo a Deus pela liberdade que temos de culto. Ah, vidinha evangelical medíocre! Vamos continuar tendo muita liberdade enquanto não encomodarmos ninguém.

Bem, mas não é isso que queria trazer. Um dia o farei com mais precisão.
Estou pensando em um Poema que abordasse tal realidade, e a colher assinaturas (e grana também) para que publicássemos num jornal expressando como se incomodam, pelo menos esses que assinaram em baixo.

Vou me debruçar nisso.

enquanto isso vai aí uma poesia antiga.
beijos.
Wilson Tonioli

-o-

SE NÃO FOSSE O HÍFEN


Se não fosse o hífen,
guarda-chuva seria o fim dos alagamentos.
Um lugar que de tão grande, guarda chuva,
do que sobrasse de rios e lagoas,
e não só, substantivo comum nas garoas.

Se não fosse o hífen,
contra-ataque seria um estado de paz.
Um modo de ser de gente contra ataque,
de gente que luta para que se não lute,
e não a reação de responder o chute.

Se não fosse o hífen,
menino-de-rua seria só uma criança.
Alguém orgulhoso de ser de rua,
da cidade, de país, de lar...
E não o ser nu a desfilar.

Se não fosse o hífen,
palavra-chave seria só um ditado com “ch”...
E com mais uma ave, que não voa, a palavra chave.
Como todas, que sem se mover, são mortas,
e não segredo para se abrir caminhos e portas.

Se não fosse o hífen,
ponto-de-vista seria um lugar concorrido,
onde pessoas se juntam num bom ponto de vista,
para ver vales e ocasos...
E não a intransigência criando casos.

Se não fosse o hífen...
Cara-de-pau seria arte.
Carranca tirada do pau bruto, cara de pau.
Face que lá está e não se vê. Mágica...
E não a cara descarada. Cínica.


terça-feira, 26 de setembro de 2006

Assentamento

Um Tio saiu a procurar,
um grande A que pudesse cobrir,
mas sem o O que lhe desse o não,
inda que fosse numa só manhã.

A Crase é
a crise do acento,
no caso agudo,
apela à fé.

O circunflexo é a culminância
do Agudo à Crase;
vivem à beira do rio Quase,
sob o telhadinho da tolerância.

Wilson Tonioli

sábado, 23 de setembro de 2006

Tornarei-me um Ébrio

Sente-se um pouco irmão. Tome uma bebida; vamos conversar um pouco. O começo é chato... Depois piora, mas peço, não se levante; é necessário.
Sabemos muito bem, por informações ou por experiências próximas: a bebida alcoólica é a pior das drogas. Segundo recentes pesquisas, quase cinqüenta por cento das famílias brasileiras tem problemas com o alcoolismo. A maior parte dos acidentes de trânsito e outras tragédias, tem como causa direta ou indireta o alcoolismo. A nossa consciência já está embriagada desses índices e advertências. Assim, não lhe oferecerei mais nenhum trago disso.
É que me peguei pensando, o que seria de nós, para nossa diversão e quebra relaxante das rotinas, se não fossem os cômicos bêbados por aí. Já sei, pode o leitor estar julgando: “que oportunismo mais perverso!”. Dou razão; eu mesmo já me envergonhei de mim mesmo com tal pensamento. Sarcasmo mesmo, se rir dum desgraçado. Contudo, sem deboche. Senão, continuarei me defendendo: quem nunca se viu rindo diante de um bêbado, por algo que ele falou ou pela maneira como agiu, mesmo que esse riso tivesse sido bem contido? Quem é que não tem um episódio de bêbado pra contar e que também provoca risos nos ouvintes? Sim, todos temos, ainda que, a gente salvaguarde a compostura ética de um cristão, afirmando no final: “coitado... é triste ver um ser humano assim...”. Nossa postura, refrigerantemente farisaica, não nos salvará das surpresas com que a vida real, todos os dias, nos brinda.
Peço um pouco mais de paciência; já chegarei onde quero. Antes me permitam contar um, só um dos meus episódios, (confesso que tenho colecionado alguns. Um dia, talvez, publique um livro: “Meus Encontros com Bêbados”. Ou: “Bafos, Risos e Lições”. Alguma coisa assim) que é simples, mas me deu ressaca.
Estava entrando no trem da CPTM, ao mesmo tempo em que falava ao celular, por uma das portas que ficam junto à parede dos fundos, ou da frente, depende do sentido que vai a máquina, mas isso não importa. O vagão estava cheio, mas não de se espremer. Um homem, jovem, estava sentado no chão com as pernas dobradas, encostado nessa parede. Eu me posicionei bem à sua frente, mas a principio nem o percebi direito, pois, como já disse, estava em conversa. Talvez até tenha dado uma resvalada no seu pé, pois na posição em que estava, meio no meio do caminho...(um homem sentado ocupa maior área quadrada que um homem em pé). Desliguei o celular, logo percebendo que havia uma certa importunação no ar. O homem no chão estava perturbado com a posição em que eu estava, bem à sua frente, deixando-o a me olhar os joelhos. Bastou alguns segundos, para uma olhadela rápida nas pessoas ao redor. Impacientavam-se; ou com meu desligamento, comum a uma pessoa que fica falando ao celular, puxando a atenção de todos para uma conversinha insossa e ao mesmo tempo, dando razão às lamúrias de um pobre diabo. – esqueci de mencionar que estava este, completamente alcoolizado; às dez e meia da manhã, diga-se. Ou, era mesmo a irritação com aquele imprestável que tirava o sossego dos viajantes. Momento seguinte, e eu estava rindo da situação e com as palavras de protesto balbuciadas, acompanhadas de gestos descoordenados. Não tenho a pretensão que o leitor ache a mesma graça. Careceria de interpretação, mas se puder tentar... Ele dizia: “P.Q.P...o zidadão viga paradu bem agui!...ó qantu lugá aí...gassete...”. Confesso que veio a tentação de ficar um tantinho mais só para ouvir as injúrias; mas saí logo, para um lado mais vazio. Cessou a reclamação. Um rapaz me olhou franzindo a testa como dizendo: “a gente tem que agüentar cada uma, não é?”. Eu continuei sorrindo. Queria dizer-lhe, “isso foi bom...”, mas só ri. O sujeito apoiava a cabeça nas mãos, depois soltava, encostava na parede, de repente, de um salto, pôs-se em pé. Olhava para fora, parecia disfarçar que sabia qual era a estação a descer. Os olhos embotados de um brilho viciado. As pálpebras ao meio, como uma persiana travada ali, que num esforço, às vezes subia na tentativa de se recompor, como se os olhos fossem tudo na imagem, mas caía em seguida para o mesmo lugar. A cada abertura de porta, ele fazia gesto de que sairia, mas ficava. Nessas alturas, no entra e sai, ninguém mais o percebia. Os novos no vagão na verdade não conheciam o personagem. Seu espetáculo fora curtíssimo. Quem viu, viu. Agora jazia em pé encostado, mudo, às vezes uma respiração mais ofegante, só. Só uma compaixão profunda me veio, como enxaqueca pela graça que achei. O espetáculo, embora curto, teve todos os elementos de uma tragédia autêntica: ação, alguma comédia, um herói a se entregar para a sensação de liberdade dos demais...
Saiu enfim numa estação qualquer. Fiquei buscando, zanzando a cabeça entre as janelas para ver o rumo que tomaria. Sentou-se no banco de madeira no meio da plataforma, esperando o trem do noutro sentido...
Desculpem, se acabou meio triste, mas quero voltar para a alegria dos encontros com bêbados. Logo outro inquilino alugou-me a mente... Ou pela instantaneidade diria: invadiu meu imóvel pensamento. Pensei nas Escrituras que afirmam: “... não vos embriagueis com vinho, mas com o Espírito.”. Só então me dei conta, como por um clarão de um fogo interno, do quanto ando sóbrio. O quanto andamos sóbrios. Demais. É certo que em alguns momentos me sinto meio embriagado; mas só em alguns parcos momentos. Como agora, por exemplo, que vou escrevendo e sinto que não tenho pleno controle de meus sentidos. Algo me empurra, me desinibe, me relaxa... Como se soubesse e pensasse: “tudo bem, amanhã esquecerei tudo mesmo...”.
Mas anseio, oh, como anseio, ser um ébrio de verdade. Ser um sem-jeito; um perdido, sem-salvação, totalmente dominado por esse poder. Então andaria por aí afrontando e confrontando a sociedade, quebrando regras estabelecidas e ao mesmo tempo, fazendo as pessoas simples rirem, pensarem... O meu hálito, certamente, à alguns seria terrível e os afastaria, mas a outros, os entorpeceria de esperança e misericórdia... Sem rumo certo, caminharia pra qualquer direção, levado por um Vento forte, não sem sentido, mas totalmente se deixando levar. Talvez alguma instituição me internasse numa clínica de recuperação, afastada de tudo e todos, em algum sítio por aí, com muita disciplina e regras, com uma rotina de trabalhos, etc. Mas depois de passado algum tempo em abstinência forçada, inveterado e sem-salvação que fosse meu caso, eu pularia os muros, quebraria as grades, fugiria... Isso, uma, duas, três vezes, quantas fossem as internações. Não pela minhas próprias forças, mas pela força terrível da minha dependência à Química do Vinho do Espírito, com os efeitos de sua mensagem, de um Reino de outro Mundo, mas para se pregar aqui e já. Efeitos esses, avassaladores, terríveis, que não se pode conter, que quando dominam alguém, não há clínica que o recupere ou aprisione.
Contudo, vou repetir: – como um bêbado irritantemente repete as coisas - estamos todos sóbrios demais. Além do que, não faltam os que criticam os bêbados. Se estes patifes fazem os outros rirem; são meros palhaços. Se libertam dos rigores os cativos; são inconseqüentes. Se roubam muito do precioso tempo de trabalhadores; são marginais. Se passam muito tempo, ajudando amigos a se levantarem; são vagabundos... Compreensível, a embriagues traz muitos riscos. A gente pode acabar perdendo tudo, e é próprio do sóbrio alertar.
Perdoem se prolongo, mas é típico também dos bêbados: ser chato. No entanto, se chegastes até aqui, tenha paciência, já me vou... Quero insistir, ainda que, não totalmente alcoolizado: essa é a missão da minha vida; tornar-me um ébrio.
Agora sim, vou... - Já cheguei ao inadmissível de babar no teclado; só mais um parágrafo como saideira, e oferecer um brinde a essa minha esperança, e de muita gente sei. Vamos tomar um trago, sem medo. Depois mais um; e outro mais, e quem sabe, enchamos a cara, o coração, a alma... Até darmos as mãos e sairmos pro mundo.

sábado, 2 de setembro de 2006

Plutão

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

TANTIGREJA


TANTIGREJA

Tantigreja...
De se abrir os olhos e ver,
ou que seja,
de abrir ouvidos e ouvir.
São ibabs, ibebs, ibibs aqui;
Ibobs, ibubs ali...
Das que fazem crer,
das que fazem dar,
das que fazem por fazer.
Ipe is, ipebes, ipeces;
congrega ações...
As sem bleias,
As com serva…Dores.
Comunidade média.
As sem nomes,
contudo enormes;
As de tradição,
porém em extinção…
As da graça,
as que cobram graça,
as sem graça.
Renascer, reencarnar, remorrer.
Brasil pára Cristo.
Livre, avivada, renovada;
sarada, reformada, invocada.
Universal do rei no...
Universal do rei na… Barriga.
Chekinah, a Gória de Deus.
Chekinah mão, a Glória do homem.

Tantigreja!