quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Conceitos


Alegoria: A alegria de brincar com legos.
Alienação: Atitude típica das hienas, de concordar de forma resignada, em ficar com a sobra daquilo que os leões deixam.
Antagônico: O que se opõe às antas.
Anti-semitismo: Ser contra tudo o que é pela metade ou parcial.
Alquimia: Carta para um gatinho de estimação que sumiu após ter tomado uma poção estranha.
Antologia: Reunião de muitas antas.
Apologia: Defesa de Apolo.
Bulimia: Um gatinho chamado Buli que come como um leão.
Calvinismo: Doutrina que afirma que alguns já estão destinados a ser carecas.
Compulsão: Munheca inchada de tanto contar dinheiro.
Depressão: Estado a que se leva o costume de andar muito depressa.
Diagnóstico: Aqueles dias em que você constata consigo mesmo que não sabe de nada...E nem poderá saber.
Diverticulite: Inflamação do órgão que produz o bom humor.
Dízima Periódica: Procedimento de dar o dízimo de vez em quando, contudo, infinitamente.
Dogma: do latin-do, Dog má; Uma cadela brava que não aceita estranhos.
Ejaculação Precoce: Comportar-se como um jacu antes do tempo.
Evangelical: Marca de um produto à base de cálcio, usado para branquear ou limpar uma fachada.
Estereótipo: Um tipo cujas tendências é de falar sempre as mesmas coisas, embora por canais diferentes.
Falácia: Estabelecimento de comércio dos remédios para língua.
Fenômeno: Acontecimento atípico que une os feios às belas num castelo qualquer.
Fornicação: Peixe assado em forno não convencional.
Globalização: Politização do mundo conforme a Rede Globo idealiza.
Grupo de Risco: Escola Estadual de pichadores.
Idiossincrasia: Maneira idiota de cada indivíduo reagir a uma azia.
Iluminismo: Filosofia desenvolvida na Rua da Consolação em São Paulo.
Incesto: Prática do basquete em família.
Inconsciente Coletivo: Desgovernado ônibus em que todos um dia vão entrar.
Inteligência Emocional: Micro-computador que chora quando perde a placa-mãe.
Monoteísmo: Doutrina que se propaga apenas por um canal.
Otimismo: Crença exagerada no time que torce.
Panteísmo: Doutrina propagada pela Rádio Jovem Pan.
Paradigma: Procedimento criado por Pelé na cobrança de pênalti, que se tornou um padrão universal para iludir um guarda-metas.
Parceria: Se não fosse impar dar sem receber.
Patologia: Doença que ataca os patos.
Pentecostal: Pente para os pelos das costas.
Pessimismo: Doença no pé que impede o movimento.
Pós-modernismo: Um ponto depois do Masp.
Proselitismo: Retórica da prosa-fiada para convencer alguém.
Psicagonia: Dor-de-barriga psicológica ao invocar entidades estranhas.
Reforma Protestante: Obra parada com a greve dos trabalhadores exigindo igualdade de tratamento entre os diversos cargos.
Terminologia: Terminal onde se tem acesso a todos os termos do mundo.
Transcendente: Transportadora de banguelas que atende fora das zonas de entrega.
Transtorno Bipolar: Patologia que adquire a pessoa que mora em Oiapoque e trabalha em Chuí.
Tripulante: Atleta praticante do salto triplo.
Vida Sedentária: Forma de vida em alguns seres, que morrem de sede, mas não levantam da cadeira para pegar um copo d´água.
Utopia: Um pintinho chamado Uto, que, quando crescer, botará ovos de ouro.
Deus: Verbo Dar no pretérito plural. Indica a ação de Quem deu generosamente muito de Si para os outros.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Aonde Jogarão Minhas Cinzas?


Esta pergunta me veio da noticia de que as cinzas de Scotty, - aquele tripulante da Enterprise de Jornada nas Estrelas, lembram? – irão para o espaço agora em outubro. Na verdade são as cinzas de James Doohan, pois o corpo de Scotty já desapareceu há mais tempo junto com o seriado. Contudo, o que é verdade aqui não interessa. Para os fãs, Scotty foi para o espaço.
Mas voltando à terra e à minha pergunta, passou a me preocupar onde serei jogado. Eu mesmo, não meus personagens. Poderia ser no espaço também, já que minha mãe sempre disse que eu vivia no mundo-da-lua. Aliás, no espaço não se joga nada; larga-se, se lança, se solta. É até mais bonito. Porém, como o preço da dimitil-hidrazina (combustível de foguete) anda em alta, melhor não me iludir. Mesmo se fizesse uma poupança desde já, quem é que me assegura que minha família não vá ser convencida de que isto é uma excentricidade, um capricho em detrimento de tantas necessidades, etc.? Mesmo porque, quietinho numa caixinha, já não teria tanta força de argumentação. Pior fatalidade: no momento de ser solto no espaço, por um desses acidentes de percurso, a caixinha escapasse das mãos do ente querido escolhido para a missão – pois aquelas roupas de astronauta atrapalham – e eu vagasse pela vastidão do universo, preso dentro de uma caixinha, com meteoritos tirando fina, pra todo o sempre.
Pode ser no mar. Do mar sempre tive medo. Na praia, quando entro no mar, nunca passo da cintura. Aliás, se me virem com água pelo peito, corram a me socorrer, pois estarei tentando me matar. Com o gesto de minhas cinzas jogadas em alto mar, com o réquiem das gaivotas e do zumbido do vento ao fundo, estaria dizendo aos familiares e poucos amigos presentes em tão inviável cerimônia fúnebre: a morte sempre vence o medo. Mas isso, acho que também não vou querer. A maré acabaria por me trazer de volta à terra; à areia. Então as crianças da classe média fariam seus castelinhos com os agregados das minhas cinzas, construindo e desconstruindo. Estaria simultaneamente em dois castelos a guerrear contra mim mesmo. Se ao menos ficasse em uma dessas fortalezas arenosas... Mas já viu criança deixar um castelinho em pé? Com sorte, uma parte de mim poderia ficar em exposição numa bela sereia, escultura de areia, de algum artista de praia. Poético, mas improvável.
O mato também é outra opção. Adoro o mato. Mas nessas épocas de queimadas, seria bem provável que seria cremado reiteradas vezes até minhas cinzas perderem sua cor cinza original atingindo um negro final inaquarelável. O ator Raul Cortez foi jogado no campo, em seu sítio em Porto Feliz. Quem sabe, eu também possa repousar no pé de um jequitibá, uma paineira centenária, mesmo entre umas marias-sem-vergonhas, para escândalo de uns mais moralistas presentes ao cortejo. Aí, quando uma florzinha meio acinzentada brotasse alegre, entre as lilás, laranjas, vermelhas, brancas... Minha netinha gritaria: “olha mamãe, o vovô todo açanhado no matinho!”.
Num Rio? Pode ser, mas também vai acabar no mar e depois na terra... Não vamos retomar essa estória. Talvez me espalhar a esmo por aí, sobre a cidade de São Paulo, com um teco teco alugado. Mas causaria desgosto à minha família se, vazada a noticia de tal ritual, as pessoas aterrorizadas com essa garoa funesta, passariam a varrer e lavar com asco seus quintais e telhados. Fora a probabilidade ridícula de cair sobre cemitérios, cometendo então minha derradeira redundância, e de todas cometidas em vida, repito, a mais ridícula.
Poderá, porque não, eu ser depositado em um cinzeiro comum. Sem cerimônia, sem gesto, sem poesia, sem epitáfio, sem nada.
Essas idéias todas me preocupam, por isso vou pensar melhor, antes que eu tome uma decisão precipitada da qual venha a me arrepender.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Banheiro de Sebo



Sou freqüentador de sebos. Para meu alívio, tenho constatado se tratar de folclore essa estória que só velhos aposentados e saudosistas tem o costume. Tenho visto muitos jovens, com os mais diversos interesses, fazê-lo. O sebo é o tipo de um limbo, onde almas estão aguardando por alguma salvação e outras, embora ainda sobreviventes, amargam o espaço na prateleira da danação eterna. E quando você entra então, sente que todas estão sofrivelmente a esperar um resgate; uma lembrança.
Feito essa parca defesa, vamos ao assunto. Postergo para um tempo maior e de maior inspiração para me aprofundar. Sabendo que se aprofundar em alguns temas, é entrar nos recônditos onde os ácaros, mais bélicos se mostram.
Neste que estou freqüentando no momento, algo de estranho se passa comigo no campo fisiológico. Como se houvesse um tipo específico de ácaro que ao invés de atuar nas vias respiratórias, o fizesse nas vias intestinais. Cientistas o chamariam de ácagarus relaxantis. Ou, há uma energia especial vindo de literaturas técnicas do assunto, cuja força sobrepuja a outras influencias. Ou também, a grave influencia das muitas edições em que o conteúdo é o próprio objeto do assunto ao qual me refiro. Enfim, fica aí uma pesquisa a se concluir.
O fato é que da última vez em que me atacou tal sentimento, não resisti a ele. Com força tamanha, como a tração das máquinas locomotivas que separam queridos que partem dos que ficam, assim me vi desistir dos Machados, Clarices e tantas queridas almas. Digo que não resisti, pois desta feita tive que de humilhação me vestir e chamando o Sérgio – dono do sebo – pedir para usar o banheiro, sem prefácios, mas com muitos agradecimentos. Não daria para chegar ao escritório. Mesmo porque, nesses momentos agudos em que o mais inadiável e importante dos afazeres se torna fútil tarefa, a distância entre o ponto acidental e o ponto ideal deve ser considerada; e rapidamente. É nesses instantes que temos compreensão de conceitos da física: A menor distancia entre dois pontos é infinitamente maior que as curvas do intestino delgado. A unidade anos-luz de distancia, também é percebida na prática. Anus-luz, se houvesse tempo para trocadilhos e se rir não fosse tão perigoso nessas horas.
O sebo está num sobradinho, desses sem recuos laterais, apertadinho e uma vez dentro é difícil identificar os ambientes do que fora aquela casa. Livros por tudo que é canto, revestindo as paredes em prateleiras pingentes, pilhas de literaturas no chão, nas mesas, ficando sempre uma brechinha mínima para se transitar, tão mínima que permite a um ácaro atravessar correndo de uma pilha a outra sem ser pisado. O dono parece um camaleão amalgamado com as estampas cor de pó, e é preciso uma certa concentração para achá-lo quando se entra. Nos fundos, - aonde me ocorrem os primeiros sintomas -
no que parece uma pequena copa, estão as literaturas nacionais, amontoadas numa pia velha encostada em prateleiras de metal que só não estão oxidadas por não haver espaço para troca de oxigênio. Mais ao fundo uma entradinha que leva a um cubículo escuro, ao qual eu não chegava por puro receio. A fantasia de qual literatura encontraria ali me assombrava. Porém, havia a esperança de se tratar de um banheirinho e talvez então, não fosse mister passar pela humilhação a qual já me referi. Qual valente que por uma missão nobre derrota guardiões horripilantes, fui. Disfarçando, mas decidido. Engano. Se houvera uma latrina ali, agora estava soterrada por livros, revistas e gibis. Um Super-homem em frangalhos parecia me dizer: “seja homem”.
Num piscar de olhos estava no piso de cima. Corredorzinho estreito, também recheado de livros antigos, técnicos e tudo. Um foco nevoado de luz me indicava a porta aberta do paraíso. Um cãozinho que corre ao encontro do seu dono não seria mais ligeiro do que eu ao adentrar. Passados os primeiros segundos, foi que me pus a reparar naquela decoração. Uma maravilha. Livros e revistas amontoados ao redor da louça e no desativado boxe; e o melhor, ao alcance das mãos. A noção do unir o útil ao agradável jamais me fora tão clara. Aqueles que gostam de ler e mais ainda nessas horas, hão de fazer coro comigo e exaltar, ao imaginar, tão poético lugar.
Perdido de um, perdido de dez. Valho-me desse jargão do futebol para contribuir ao explicar que, configurada uma humilhação, o negócio é relaxar. Daria no mesmo, ficar dois ou vinte minutos. Decerto o proprietário até esquecer-se-ia da minha pessoa, e só quando a válvula de descarga fizesse a velha tubulação estremecer as paredes com livros escorada, então se lembraria, sem, contudo, fazer conta do tempo.
Também há a advertência de que o muito tempo em tal exercício, favorece a dilatação varicosa das veias anorretais – já que estou no andar dos técnicos. Ou, as hemorróidas. Não estou aqui a desprezar quem assim teme. Até mesmo promovo esse perigo à classe dos perigos prazerosos. Infantiliza seus pensamentos quem julga não haver força no prazer e de não ser seus longos braços quem nos estreita a tais perigos.
O esposo ou esposa que trai seu conjugue, o faz pelo prazer momentâneo, embora tenha consciência que aquilo vai detonar sua vida, pelo menos por um tempo bem maior. O sujeito que coça freneticamente sua frieira, o faz pelo prazer louco que aquilo lhe trás, e nem quer saber, embora saiba, que aquilo vai maltratar severamente seus dedos.
Salto desse trem de divagações, para dizer que continuo respeitando àquela advertência, ainda que, até hoje nunca sofrera a fragosa conseqüência.
Voltando ao meu embevecimento: ao alcance das mãos e os mais variados temas, sem catalogação alguma; alcancei um de artes plásticas. Capa dura, fotos descoloridas, artistas que nunca ouvira falar... Mas me auxiliavam com o estilo barroco, art nouveau... Puxei um que me atraiu pelo tamanho; anatomia. Tentei procurar como funciona um intestino, a celebrar o casamento da teoria com a prática. Deixei de lado. Direito civil... Técnico em Eletricidade; magnetizado foi meu pensamento à imagem daquelas caveiras nas cabines de alta tensão; casa-de-força, para leigos. História... Astrologia. Será que astros exercem influência em tudo? Pensei no pobre Plutão. Na mitologia grega, era o deus dos submundos. Agora um deus anão. Deveria arrancar a folha e colá-lo à parede daquele submundo, mas nem espaço na parede, nem coragem em mim havia. Peguei uma enciclopédia. Observem que o critério é dos maiores para os menores. Do geral para particular. Tentei mais uma vez, ser eu mesmo, pano de fundo aos estudos. Procurei uma palavra, que não sei se feia, técnica ou aristocrática, mas era a que meu pai empregava quando eu era menino: evacuar. Ajudariam muito se naqueles tempos dispuséssemos de gírias como, passar um fax; libertar a marmota; escorregar o moreno, entre outros. Por fim, era a grande chance de um destrinchamento do termo. Mas nada. Joguei a obra – à enciclopédia, me refiro. Passei a relembrar que quando moleque, traduzia a expressão como um ajuntamento coloquial de palavras; resumo de uma frase assim: “... e vá cuar, menino!”. Mais tarde, sabendo que “cuar” não era nada, e colegiando, achei que tinha a ver com vácuo. Um ato para deixar um vácuo interno. Quando comecei a ouvir as notícias das atrocidades da polícia no regime da ditadura, abandonei tudo que já havia pensado e julguei ter meu pai, um homem simples, mas campeão de palavras cruzadas, feito confusão com termos: evacuar era então, abandonar uma praça de guerra.
Bem, foi o que acabei fazendo. Peguei minhas compras e evacuei. Não necessariamente nesta ordem.

os números - o dossiê

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

os números

terça-feira, 3 de outubro de 2006

poema politicamente incorreto

Parafraseando M L King:
O que me assusta não é o escândalo dos políticos
mas o silêncio dos crentes.
A igreja por vezes se torna um lugar tão espiritual que não há lugar para crítica, denuncia, uma oraçãozinha sequer pedindo justiça... Que dirá um grito tipo "raça de víboras!". Em que páramos anda nosso carater profético da denuncia contundente? E pensar que estamos, isto sim, orando agradecendo a Deus pela liberdade que temos de culto. Ah, vidinha evangelical medíocre! Vamos continuar tendo muita liberdade enquanto não encomodarmos ninguém.

Bem, mas não é isso que queria trazer. Um dia o farei com mais precisão.
Estou pensando em um Poema que abordasse tal realidade, e a colher assinaturas (e grana também) para que publicássemos num jornal expressando como se incomodam, pelo menos esses que assinaram em baixo.

Vou me debruçar nisso.

enquanto isso vai aí uma poesia antiga.
beijos.
Wilson Tonioli

-o-

SE NÃO FOSSE O HÍFEN


Se não fosse o hífen,
guarda-chuva seria o fim dos alagamentos.
Um lugar que de tão grande, guarda chuva,
do que sobrasse de rios e lagoas,
e não só, substantivo comum nas garoas.

Se não fosse o hífen,
contra-ataque seria um estado de paz.
Um modo de ser de gente contra ataque,
de gente que luta para que se não lute,
e não a reação de responder o chute.

Se não fosse o hífen,
menino-de-rua seria só uma criança.
Alguém orgulhoso de ser de rua,
da cidade, de país, de lar...
E não o ser nu a desfilar.

Se não fosse o hífen,
palavra-chave seria só um ditado com “ch”...
E com mais uma ave, que não voa, a palavra chave.
Como todas, que sem se mover, são mortas,
e não segredo para se abrir caminhos e portas.

Se não fosse o hífen,
ponto-de-vista seria um lugar concorrido,
onde pessoas se juntam num bom ponto de vista,
para ver vales e ocasos...
E não a intransigência criando casos.

Se não fosse o hífen...
Cara-de-pau seria arte.
Carranca tirada do pau bruto, cara de pau.
Face que lá está e não se vê. Mágica...
E não a cara descarada. Cínica.