quarta-feira, 18 de julho de 2007

Mas qual é o Cristo Verdadeiro da Igreja?

Segundo um documento oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, emitido na semana passada, a Igreja Católica é a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Tudo bem, mas qual é o Cristo verdadeiro da Igreja?
Não fico melindrado com a declaração; na verdade pouco me importa, embora reconheça: uma declaração dessas é como sair batendo panela nas grades das jaulas de feras que se esforçam para conviver no mesmo canteiro do circo.
Se for importante saber onde, quanto mais ainda é saber quem. Se Cristo cabe em algum lugar e, de alguma forma - não tenho a mínima idéia como – ficasse provado que este lugar é a Igreja Católica, então se resolveriam os rachas entre cristãos com todos se mudando para lá. O adesivo para se colar nos carros então seria: sou seguro por ser católico. No entanto, proponho a crise do saber quem é o Cristo verdadeiro da Igreja - e no que concerne a este saber, tanto é prejudicial a certeza caduca, quanto a ignorância assertiva. Ambas tramam divisões desde sempre.
Odeio ter que usar passagens bíblicas, como se fossem corda de varal para eu pendurar o texto que escrevo: apoio e visibilidade. Porém, o faço na intenção de estimular uma pesquisa. É mais ou menos o que Jesus conversava com a mulher samaritana: ela queria o onde – se deveria adorar; Ele queria o quem: “... se soubesses quem sou...” (João 4.10) Ela pergunta: “...onde tens a água viva?” (João 4.11) Jesus não resp-onde. Como quando falou do Reino de Deus: não é o onde que lhe imprime a significância, mas a pessoa que o transporta, e como o transporta. Primeiro com e em Jesus; depois, plantado nos discípulos.
Pensemos então no quem; na pessoa de Cristo: todos os cristãos, contra a ordenança da lei, fizeram suas imagens de Cristo. Há um Cristo emoldurado e pendurado na parede do nosso entendimento. Há um Cristo olhando de frente, bonito, olhos claros, barba e cabelos aparados, dalmática imperial; religioso e incisivo. Há um Cristo sem cara, real, talvez feio, histórico; questionador. Há um crucificado com um crepúsculo atormentado ao fundo. Há um ensangüentado, vivo e agonizante. Há um ressuscitado, triunfante. Há um milagreiro. Há um aliado. Há um sócio. Há um justo. Há um gracioso. Há um pai. Há um nome. Há uma marca. Há um deus... E tantos outros. Para cada um, um lugar. Cada cristão busca o lugar mais a ver com seu Cristo, pois sua imagem de Cristo, na verdade é pintada num espelho segundo suas feições e interesses. Tudo que produz depois vem contaminado do seu Cristo; ninguém escapa disso. Como alguém já disse: “No princípio era o verbo, no fim o chavão.” Você vai dizer: “ah, então isso que você escreve também está contaminado...”. Sim. Feliz foi o profeta Jonas que conscientemente pregou o que não queria.
Qual é o Cristo verdadeiro da Igreja? É terrível, mas a imagem parece ser mais forte e impressionante do que o Ser mesmo. Isso é um absurdo, pois estamos falando acerca do Cristo, em quem tudo subsiste. Nenhuma imagem poderia sobrepor-se ao Seu Ser, por mais próxima da verdade. No entanto, não tendo compreensão do Ser mesmo, fazemos da impressão um simulacro do Ser em nós e para nós.
Bem, isso já está ficando meio complicado além de chato. O que me preocupa mesmo é: que Cristo eu pinto, para meus filhos, para meus amigos, para mim mesmo? E a partir daí, onde me obrigo a fazer meu abrigo? E como quero que sejam e se portem as pessoas que comigo comungam? Qualquer Cristo que eu creia, mas que não me liberta e tampouco deixa o meu semelhante seguir em frente, livre, é uma estampa ordinária, como garatujas ou imitações bizarras de obras-de-arte que, coladas numa parede, compromete e faz perder a beleza de seja lá qual for o lugar.
Deus me livre da esquizofrenia espiritual: crer num Cristo e conviver com outro inexistente. Crer num Cristo e não achá-lo onde me encontro, portanto, falando coisas estranhas e ouvindo coisas estranhas. Supor que o Cristo que vejo e contemplo com meus olhos é o tudo de Cristo e cabe perfeitamente na sala medíocre da minha compreensão...
Abandonarei isso sim, essa minha paliçada onde me protejo e me defendo dos meus inimigos em Cristo. Fugirei isso sim, como um claustrófobo angustiante de qualquer lugar de Cristo, a fim de respirar o ar fresco da liberdade em Cristo; vê-lO e quem sabe, lhe dar um “oi”.

Um comentário:

Anônimo disse...

acredito q como 'crentes' temos certezas demais, respostas demais. a qualidade desta pergunta:
'mas qual o verdadeiro Cristo da igreja' é algo incomum no nosso meio. os cristãos cultuam deuses diferentes q fez por outra coincidem com o próprio Deus. é saudável pensarmos se nosso Deus pessoal não é somente o nosso deus territorial uma espécie de tamagushi q alimentamos e devotamos atenção nos momentos apropriados.
tudo bem, mas e a fé q se expressa na eklesia?
a expressão da fé em Deus se faz na comunhão dos santos, não é?
sim.
mas então termino com outra pergunta.
vox populi vox Dei?

joão