sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Quem se incomoda com as dores no fígado de Ingrid Betancourt?


Eu?
Tu?
Ele?
Os dois do paredão?
Os Hernandes?
Ronaldos, Kakás e seus passes?
Roberto Justus?
Que justiça, desse e de outros mundos?
Bill Gates?
Os deuses de todas as religiões do mundo?
Os curandeiros e seus passes?
Que forças armadas?
Os monges, armados de silêncio?
Os padres munidos de oratória?
Os fanáticos de todo canto?
O pastor e sua Bíblia-giratória?
Os ecologistas e seus ecos redundantes?
A alma das múmias das freiras?

A insônia duma coruja...
A paz da selva,
que se quebra no gemido lancinante.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Memória rã


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Você cata cocô?

Veja a situação em que chegou esta espécie denominada Homo sapiens, o ser humano – e ao que parece não vai parar por aí.
O cãozinho vai à frente, cagando e andando literalmente e o homem, este ser incomparavelmente superior a qualquer outra criatura, vem atrás catando o cocô com um saquinho de supermercado. Por enquanto, pois este saquinho logo logo acabará, para o bem da natureza, aí ele deverá recolher o produto com sacola de papel mesmo, para ele, o homem, menos higiênico. Ainda quando o intestino do animalzinho estiver trabalhando normal, com sua produção em estado sólido, tudo bem; não sei como fazem quando esse órgão tem um desarranjo tornando pastoso o excremento.
O fato é que é constrangedor, você assistir um idoso, já até com certa dificuldade para andar, depois de ter vivido tanto e com tantas experiências de vida e boas estórias para contar aos netos, todas com lições de dignidade, respeito, auto-estima, etc., ter que... Cumprir mais esta civilidade: ele tenta dar um comando para que o cão pare enquanto ele faz a faxina; o cão não para quieto. Ele tenta travar aquele carretel que se usa agora, que permite você “dar linha” ao cão como se fosse uma pipa, mas não consegue. No entanto a consciência daquele idoso é pesada demais para que o cão o arraste e o faça desistir daquele ato educado e ele finca o pé. Deve catar o cocô de todo jeito. Com uma mão ele tenta segurar a linha e com a outra, enfiada no saco - de plástico do mercado – ele tenta apanhar o dejeto. O cachorro se enrosca na árvore do outro lado da rua, dando voltas naquele exercício de achar o melhor lugar para marcar território. A linha fica perigosamente esticada na rua, que embora tranqüila, é rua. E desde o tempo em que eu, moleque, tive as primeiras experiências com a lei de Murphy, sabia que para surgir um carro era só a linha da pipa ficar atravessada na rua.
Nisso, você que está assistindo, sente um misto de vontade de rir com vontade de ajudar. Ri, mas também vai ajudar; além de tudo ainda lhe resta mais virtudes em você do que você imagina. Tenta tirar da mão daquele senhor o carretel e recolher o cão. Lógico. A outra opção de ajuda nem pensar: catar o cocô de cão alheio já seria virtude demais que nem gregos chegariam a tanto.
Enfim aquele senhorzinho não cede, mantém os punhos serrados; um segurando o carretel com firmeza o outro segurando o cocô nessas alturas já esmagado, pois pensa o velho: o dia em que eu não puder mais, sequer recolher as fezes do meu cão sem precisar de ajuda, pode me enterrar vivo...
Ou então aquela moça, toda graciosa, figurino impecável para aquele momento, anda com seu bichinho de raça pelas calçadas. No bolso traseiro de sua bermuda, ela pensa que não, mas você já observou a pontinha do saquinho plástico – afinal de contas é sempre a primeira região para onde se dirige o seu olhar, depois, por extensão você vê o complemento até chegar à extremidade da cordinha, e ver aquele sujeitinho peludo e sortudo a puxar aquele figurino. Ela tenta fazer de conta que não liga quando seu yorkshire – aquela raça que parece um pedaço de estopa suja de graxa - começa dar umas voltinhas. Olha então para um lado e para o outro disfarçadamente, mas sabe que é inevitável o ato que se prenuncia e arma o bote. Bote porque precisa ser rápida e certeira. Não pegaria bem se alguém flagrasse tal cena: a obra de arte catando a obra. Mas é bom que se diga: algo nela diz a você que ela faz tudo isso menos por uma atitude de cidadania que por um medo de, abandonando ali a obra, ter que encarar o possível vexame de um bate-boca com um vizinho.
Uma colega lembrou a esse asséptico narrador de qual é o pior momento: não é o de ver o cãozinho caprichando enquanto alguns desocupados ficam na espreita, atrás da cortina de uma janela, atrás dum carro, olhando se ela vai cumprir o seu dever. Também não é o fato de ter que completar todo o percurso pagando o mico de carregar aquela sacolinha, que obviamente não pode retornar ao bolso. Mas o pior instante, por mais breve que seja, é o contato da mão com aquele, por assim dizer, corpo, que de tão quentinho, parece vivo. É aí que ela dá uma olhadela para ele, o autor, que está sentadinho, também a fitando como quem diz: viemos pra ficar.
Mas tal é a importância dos animais domésticos para nós, seres humanos, que as coisas caminham para uma adaptação total dos costumes e dentro em breve já ninguém estará reparando nisso e achando tudo muito normal, até finalmente se tornar inquestionável mesmo, é a importância que terá o ser humano para o animal doméstico... Afinal de contas ele não Pet, ele manda.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Um palíndromo

Um dos meus preferidos pelo paradoxo que exprime:

ELA RELAVA A VALER, ALÊ.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Diante do trono


Não adianta chorar a b...enção derramada.

Peço desculpas àqueles visitantes que não conhecem esse universo evangélico e que não tem a mínima idéia do que venha a ser isso aí em cima... No fundo mesmo, nem eu estou entendendo mais nada.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Pra não dizer que não falei da engenharia

PROVÃO DE ENGENHARIA

1. Solução Estrutural

a) Gangorra
b) Balanço
c) Piscina de bolinhas
d) Lan house

2. Presente em estruturas de concreto:

a) Armadura frouxa
b) Armadura resignada
c) Armadura covarde
d) Armadura cabra-macho

3. Tipo de esforço solicitante:

a) Cerol
b) Cortante
c) Vidro-moído
d) Larga-disso-moleque-que-é-perigoso

4. Elemento utilizado na via do metrô para captação das correntes de fuga:

a) Barra chata
b) Barra mala-sem-alça
c) Barra gente-fina-pra-caramba
d) Barra fazendo terapia

5. Tipo de secção de viga comum em obras-de-arte:

a) Vala-comum
b) Caixão
c) Saco
d) Cinzas-sobre-o-rio-Siena-ao-entardecer

6. Utilizado para suspender peças estruturais:

a) Primata
b) Homem de Neanderthal
c) Macaco
d) Tarzan

7. Tipo de contenção:

a) Cortina
b) Veneziana
c) Vidro fume
d) Quando-o-sol-bater-na-janela-do-teu-quarto

8. Estrutura de apoio em obras viárias:

a) Encontro
b) Despedida
c) Furão
d) Te-mando-um-email

9. Solução para apoio:

a) Ombro-amigo
b) Mó-força
c) Consolo
d) Ema-ema-ema-cada-um-com-seus-problema

10. Compõe um perfil metálico:

a) Espírito
b) Alma
c) Tricotomia
d) Assombração

11. Processo após concretagem:

a) Cura
b) Sara
c) Nas-últimas-mas-a-família-tá-conformada
d) UTI

12. Barra de 12,5mm:

a) Barra de meia
b) Barra descalça
c) Barra de pantufas
d) Barra-teimosa-vai-pegar-um-resfriado

13. Elemento metálico para fixação de estruturas:

a) Incerto
b) Inserto
c) Hesitante
d) Pode-crê


14. Utilizado em vedação que permite ventilação:

a) Elemento-vazado
b) Elemento-socorrido-e-fora-de-risco
c) Elemento-estranho
d) Elemento-armado e perigoso

15. Desenho de uma força:

a) Momento
b) Instante
c) O-tempo-não-para
d) Até-segunda-bom-fim-de-semana

16. Disciplina das estruturas em aço:

a) Nirvana
b) Metálica
c) Mamonas
d) Os-dois-filhos-de-francisco

17. Caixa em alvenaria para manipulação de cabos:

a) Caixa de passagem
b) Caixa veio-prá-ficar
c) Caixa reintegração-de-posse
d) Caixa quem-é-vivo-sempre-aparece

18. Terra a ser retirada do local:

a) Happ ouer
b) Bota-fora
c) Chá-do-bebê
d) Churrasco-na-laje-com-pagode

19. Líquido formado na superfície da peça concretada:

a) Capuchino
b) Leite-de-búfala
c) Nata
d) Chá

20. Sigla para Ferro Galvanizado a Fogo:

a) FoFo
b) FoFinho
c) FoFão
d) GraCinha

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Auto-ajuda (2)

Vamos lá para mais alguns títulos. Não li, mas adorei.


O amanhã a Deus pertence...
Então até a meia-noite, se vira meu!

Você tem o infinito na palma da sua mão...
E debaixo dela um mouse pra você trampar.

Você é do tamanho dos seus sonhos...
Só não caia da cama, senão você morre na queda.

Transforme suor em ouro.
Depois lave o dinheiro que estará fedendo.

Ninguém é de ninguém...
você não é ninguém;
logo, você é de alguém que não é ninguém.

Mulheres são de vê nus.
Homens são de matar.

Casal inteligente enriquece junto.
Que o digam os Hernandes.

Corra riscos!
Depois corra,
nesses casos
um auto ajuda.

Fui-del Castro


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Intestino solto


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Escatolhogia


Isso aí não é um ET não. É a projeção de seres humanos daqui algumas gerações. Estudos científicos comprovam algo bem perto disso, segundo as prospecções da seleção evolutiva e adaptação do homem ao seu habitat e grupos. Mas calma, isso ainda vai demorar um pouco, espero. Espero que meu nome já tenha sido varrido, célere e descartadamente como se faz aos componentes de hardware ultrapassados.
Vamos à figura:
Observem que a boca é minúscula. As outras formas de comunicação, especialmente os e-mails, orkuts, etc. terão recursos avançadíssimos, o que não vamos pormenorizar aqui já que estamos falando de biociência, que trata dos seres vivos, e máquina não é ser, muito menos vivo, por mais que um chip lute pelos seus direitos de placa-mãe. Desculpem, desconsiderem essas últimas palavras que escrevi de maneira passional e que não cabe a um relato científico.
Assim, a linguagem verbalizada será esquecida. Ninguém falará com mais ninguém. Até mesmo as fofocas, hoje tão famigeradas, rodarão em outras plataformas que não as línguas. Aliás, a língua será um órgão atrofiado dentro da boca, por assim dizer uma segunda amídala, podendo ser arrancada a qualquer hora. Pelo menos um território a menos para as aftas. Mas uma palavra na ponta da língua que você quer se lembrar estará mais próximo de ser engolida e esquecida para sempre.
Como as pessoas através dos séculos foram fazendo suas refeições cada vez mais diante do monitor, os alimentos se transformarão em líquido finalmente, o que apenas exigirá que a boca abra o suficiente para um canudo.
A orelha, por tabela, se atrofiará. Nessas alturas, ninguém estará ouvindo mais ninguém, em toda abrangência de sentido que esse verbo possuía: ouvir no sentido de simplesmente escutar o som da voz de um interlocutor; ouvir no sentido de dar-ouvidos, aceitar; ou ouvir no sentido de acolher, consolar. Embora seja o tímpano que capte os sons, essa concha cartilaginosa de arquitetura complexa, funciona como radar para os sons médios da voz. Assim, com a diminuição dessas ondas e o aumento de furos para instalações de adornos, ela irá definhando. Azar de quem fazia uso da auriculoterapia, que é o tratamento através do estímulo dos pontos reflexos espalhados na orelha e que correspondem aos demais órgãos, empregada pelo acupunturistas. Talvez esses pontos não desapareçam, mas ficarão tão espremidos, como família grande em pensão, que uma única agulha atingiria a todos simultaneamente provocando um curto e o conseguinte desequilíbrio da saúde. Tola preocupação; essa prática já terá desaparecido há muito.Vantagem nessa redução? Bom, talvez aquela pulga-atrás-da-orelha seja mais facilmente descoberta.
Os olhos, ao contrário da boca e orelha, se desenvolverão de maneira uniforme com as pálpebras e os orifícios cranianos também se expandindo, garantindo assim que o globo ocular não fique saltado. Essa deformação ocorrerá na proporção das deformações da boca, língua e orelha, menos pelo princípio da compensação de sentidos do que pela culpa mesmo dum exercício exacerbado dos olhos. Os olhos estarão mais, muito mais pregados à tela – não só do monitor, mas naquele tempo, já estarão espalhadas pela casa - e às milhares de informações, pois estas se mutarão com assombrosa rapidez a tal ordem que estimularão de forma impressionante a órbita ocular, a íris, a córnea e os nervos ópticos. Isso a ponto de, para a lubrificação dos olhos, só piscar na hora das – ou da – refeições. - portanto, as pálpebras se retrairão. Ainda mais quando se soube que estavam certas as teorias de que piscar paralisava parte do cérebro, que o cérebro perde informações do mundo exterior naqueles brevíssimos instantes. Bastava uma continha simples e assim fizeram: se piscamos em média 12 vezes por minuto, piscamos 17.280 vezes por dia; e se considerando que cada uma dessas trevas dura um décimo de segundos, então o cérebro se desconecta, com esse ato banal, por 28 minutos por dia aproximadamente. Um absurdo de tempo! Constataram. Nem um download dos mais demorados no início do século XXI precisava tanto. Em 28 minutos se perdem negócios, chances... Fica-se obsoleto. Você deve estar pensando: “você se esqueceu de descontar as horas de sono.” Sono? Esse usurpador do tempo precioso fora totalmente erradicado.
Vê-se também um achatamento do lado esquerdo do crânio. No hemisfério esquerdo, onde se localizava o córtex responsável pela motricidade da fala: processamento da linguagem e o córtex responsável pela compreensão verbal: interpretação e conhecimento. Ambos se definharam por motivos já expostos acima.
Voltaremos noutro momento com o restante do corpo. Mas antes de fechar essa página, olhe bem para a figura e dê algumas piscadas, só para garantir, e fique feliz de ainda poder perder esse tempo lendo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Intestino preso


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Discriminação de raça...




Estão pegando no pé - nesse caso passando por cima mesmo - dos evangélicos.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A Qualidade ainda me manda pro inferno


A Qualidade está me deixando burro... E cruel. Gestão da qualidade já me deu congestão e preciso vomitá-la para melhorar. Escrever é uma boa; não que o leitor seja o recipiente, mas quem sabe você vive a mesma crise e juntos possamos enfiar o dedo na garganta desse sujeito-perfeito que mora em nós.
Há uns sete anos atrás, fui convidado a fazer um curso de “auditor da qualidade” - acho que era esse o nome – na empresa em que eu trabalhava. Não sei se porque era meu perfil, ou se visto de frente mesmo tinha a cara de um cara certinho... Enfim, fiz o curso estudei melhor a Política de Qualidade da empresa e logo estava treinando e sabatinando novos funcionários.
O problema na Qualidade é que você adquire uma cultura do não-erro que extrapola processos e resultados, como se fosse um vírus criado a partir mesmo do próprio corpo normativo. Levei isso, essa coisa, para outros lugares, não só às demais empresas em que prestei serviços, mas até na barraca de pastel da feira, encontrava esse sujeito-perfeito fazendo suas pregações, querendo converter um japonês cansado, desde as quatro da matina ali com uma escumadeira na mão, saturado como a gordura da fritura, desejando aspergir-la em mim, como se faz aos pombos. Pombo incomoda os fregueses, mas não faz proselitismo.
Ao final, e para me corromper de vez de tanta Qualidade, levei-a para casa. A casa da gente é uma empresa, com a diferença que você a ama. E amor não combina com Qualidade. Esta fica esperando o momento de poder trair aquele... Mas eu, quer dizer, o sujeito-perfeito estava convertido à Qualidade; quase cego de tanta luz, como todo convertido a (o).
Aí comecei a enumerar não-conformidades na cozinha, na sala, nos quartos... Julgar processos, i. é, como os meus queridos faziam as coisas e quais eram os procedimentos corretos para determinados resultados. “Procedimento”: esta é uma expressão chave, que ao invés de “fazer”, determina a seriedade das questões tais como: conseguir uma padronização no manuseio de retirada da massa fecal, cocô, da cadela, por exemplo. É bom lembrar que até os animais – alguns já in memoriam – deveriam obedecer, ou se adaptarem àquela política, a fim de não receberem não-conformidades no lombo. Lembro-me agora que tivemos uma calopsita que “durou” muito pouco, talvez por desgosto de não conseguir não fazer tanta sujeira para fora de seu viveiro, como a Qualidade requeria.
Na Qualidade, para se conseguir um objetivo, um resultado satisfatório, você enuncia um procedimento. Só que quase sempre há falhas na abrangência de implementação desse primeiro procedimento, então um segundo procedimento é imposto para assegurar o sucesso do primeiro; uma ação-corretiva. E depois um terceiro e um quarto e assim sucessivamente até a garantia plena da sustentabilidade do regime. Exemplo: “ai, esqueci de desligar o micro”. Uma falta grave, um desvio inaceitável, pois ligado a noite inteira sem precisão é um consumo de energia desnecessário. Um lar que deseja a Certificação IZO alguma coisa, jamais deve reincidir nesse Erro. Então a Qualidade pergunta: “que procedimento, vamos adotar para evitar esse esquecimento”? - aliás, essa é uma palavra abominável para a Qualidade. Ela não deve existir. A só verbalização da mesma já depõe contra quem a proferiu, valendo-lhe assim uma ação-corretiva. Determina-se então um procedimento: pode ser um aviso de “desligue o micro após o uso” que é colocado na tela do monitor; um “funcionário” sugere colocá-lo sobre o monitor por motivos óbvios. Tudo bem. Só que um dia a empregada remove o papel que já estava caindo e deixa na gaveta. Bingo! O desvio se repete. Agora alguém culpa a empregada. Segue-se a ação corretiva e outro procedimento para garantir o primeiro é adotado: “demita a empregada”, alguém sugere, mas tal ação é logo descartada: todos concordam que não se pode matar uma mosca com tiro de bazuca – e a Qualidade também prefere fazer estragos aos poucos. Chega-se a um consenso que um outro aviso seria corretivo se colado na porta do quarto da empregada, ou na porta do banheirinho onde a faxineira se troca, com dizeres: “Favor não arrancar nenhum aviso”. E assim, incessantemente os procedimentos vão proliferando, evitando os chamados desvios, garantindo a manutenção do sistema da Qualidade para a perfeita satisfação do cliente. Bom, só não sei, nesse caso, quem é o cliente... Pode ser o Diabo, ou mesmo um d-eu-s qualquer.
Também tem a ação-preventiva, que é um procedimento que se toma mesmo antes de qualquer desvio ser cometido. Quando você toma conhecimento da sua ocorrência em outros lares-empresa ou por intuição própria, de um paranóico que acha que todo acaso trágico certamente acontecerá com ele... E por aí vai.
A Qualidade não conhece perdão. Quer ver você perfeitamente neurótico. Por isso meu temor: se não perdoar desvios e sendo tão sem erro acabo no inferno, que cada vez acredito mais que não é lugar dos errados, mas dos perfeitos. Se não largar dela, da Qualidade, receberei das suas próprias mãos a Certificação que o diabo engomou.
A tal busca da Excelência é cheia de sutilezas. Quando ouço isso ouço também ecos rimados de busca de inclemência, de rabugência, de intolerância... A Excelência é a filha mimada e caçula da Qualidade que por seus caprichos, fez deserdar seus irmãos mais velhos, o Ótimo e o Bom.
Não faço uma ode ao erro nem ao medíocre, mas um apelo, com o resto de neurônios que ainda tenho não queimados por ela: cuidado, ela está embutida e enrustida na sua visão de tudo; na sua religião, na sua ética, nos seus preconceitos legitimados pela unanimidade, na sua relutância em não pensar errado, no seu céu, no seu deus... Resista!
Alguns experts nessa matéria da Qualidade poderão encontrar erros na forma como a descrevi aqui, seus conceitos e filosofia. E é o que eu quero. Já será um sintoma agudo da minha franca recuperação.
Enquanto tenho chance de me safar das suas garras que quer me mandar para aquele lugar que ninguém deseja nem, como Dante, visitar, vou tentando reconstruir o que desconstruí... Para isso já estou pensando em alguns procedimentos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008