quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Dunga é só mais um anão

Não sei por que a surpresa diante do inexorável. Refiro-me à escalação dos jogadores do técnico Dunga que vestirão a camisa do Brasil nessa Copa do Mundo. Grupo sem muito brilho, mas com “muito amor pela Pátria”, segundo as palavras do treinador. Mas devemos perdoá-lo. Dunga é somente mais um anão diante do gigante erguido no nosso tempo: o gigante da Qualidade. Com um “Q” mais que maiúsculo, impõe que tudo deve ter o compromisso da excelência, do perfeito, do correto. Gigante gerado com o puro sêmem dos bons.
Para o gigante Q – que tem um “q” de inimigo íntimo – Dunga não é nem uma pessoa; é um processo. Dunga é um processo que deu certo e tudo deve ser semelhante a ele. Dunga é o protótipo do bom; bom homem, bom moço, bom filho da mãe boa e do pai bom, bom profissional, bom amigo, bom filho da Pátria. Quem tem força de lutar contra o Q? Dunga diz: se Q é por nós, quem será contra nós?
A única coisa que Q teme é a vida, com suas imprevisibilidades e suspeitáveis caminhos. E observando que o futebol é como uma metáfora da vida, com paixões, sucessos, derrotas, lutas, metas, jogo-sujo, malandragem, surpresa, malícia, arte, violência, plástica, catarses, trabalho, sorte, orgulho, vergonha... Ele quer corrigi-lo.
O futebol e toda sua alegria e paixão estão com seus dias contados. Não que vá acabar, expurgando a arte, ficará cada vez mais excelente... Mas insosso. Já vemos sinais disso. Se um jogador aplica um chapéu no adversário, o árbitro lhe aplica um amarelo, motivo: desrespeito. Se um jogador vai ao encontro da sua torcida para comemorar o gol, recebe amarelo, motivo: agito e insurreição. Se um craque vai tomar uma cerveja e é flagrado, todas as suas jogadas geniais e seus gols do dia anterior são removidos do noticiário para dar lugar ao sermão e punição dos “Qriticos” que pregam: mais vale um cabeça-de-bagre treinando do que dez craques num bar.
Está chegando o jogo em que o atacante que faz o gol, não poderá comemorar, mas deverá se dirigir ao capitão da equipe rival e lhe pedir perdão, alegando que aquilo é seu ofício e tudo mais, isso na presença do árbitro que só então repõe a bola no meio campo. O drible será proibido. A bola só poderá seguir adiante do zagueiro se for por intermédio de tabela. O intuito final é acabar com os árbitros. Afinal de contas estará incutido nos jogadores que o mais importante é a honradez, o decoro. Talvez precise de alguém só para decidir impasses tipo: “oh desculpe, eu fiz falta em você...”, “não, não, eu caí sozinho...”, “eu insisto, você não cairia se meu joelho não esbarrasse na sua coxa...” “você me tocou? Imagina cara!”. Ou, o centroavante parte com a bola dominada rumo ao gol e de repente pára: “o que houve” diz o árbitro. “eu estava impedido”, “mas nem o bandeira deu!” insiste o zagueiro adversário... Aí aparece o intermediador e decide a parada.
Assim caminha o futebol. O favor será mais importante que o gol; a educação será mais importante que a garra; a moral será mais importante que a torcida. A hipocrisia é mais importante que um pênalti.
Tenhamos paciência. Dunga é só mais um anão diante desse futuro, quando a copa do mundo será – copa do mundo não, copa não é estético, a sala-de-estar do mundo – será uma disputa – disputa também é feio – será uma competição para ver qual é o futebol mais coerente e fraterno do mundo. A seleção não será mais a Pátria de chuteiras e sim a Apatia de chuteiras.

3 comentários:

Lou H. Mello disse...

Estava pensando em escrever algo sobre o anão Dunga e sua seleção futebolisticamente anã quando achei esse seu texto. Gostei tanto que repliquei lá no Corinthians Yes. Quem manda escrever coisa boa.

Mário Celso S Almeida disse...

Ops, Dunga anão essa é boa...E os outros seis anões dessa estória futebolística brasileira?

wilson tonioli disse...

Valeu Lou. Ainda bem que vc não guarda rancor!
abç e obg.

Mário, os outros seis estão na lista de espera da CBF.
abç