Todos nós temos um rancorzinho com o nosso-diferente. Nunca
deveria ser nosso inimigo, ou adversário aquele que pensa diferente de nós;
mas é, bem lá pra além do fundo falso é. Se não pregamos na sua testa esse
rótulo de inimigo, ao menos o evitamos.
Mas é claro, isso não se evidencia a olhos nus – nem
vestidos, muito menos, com as lentes do cinismo. Fazemos que todos fossem
iguais, legais, amigos, interessantes, figuras... Contudo, ficamos assentados e bem seguros
mesmo, só juntos a nossa torcida, estes sim vestem a nossa camisa.
O torcedor de futebol com sua paixão é a exacerbação disso,
o extremo, a caricatura. Ali no campo de jogo não há disfarces, nem Facesbook. Amigo
é amigo, inimigo é inimigo. E infelizmente isso vai até as ultimas consequências:
se matam.
O que aconteceu na Bolívia durante a partida entre Corinthians e São José.
Poderia ser com qualquer outro time ou torcida. Se não fosse Crime os seres humanos
se matariam mais. No transito, nos bares, onde quer que houvesse desavenças. A natureza
humana é um coquetel molotov que se segura com seu estopim apagado por uma
ordem moral-social. Dizer que o outro é bandido é fácil; dizer que é da sua
mesma espécie é que é difícil.
Assim, o que é instrumento da paz – o que deveríamos ser – vira
artefato de guerra, ou, o que é feito para salvar vidas, mata. O sinalizador
vira sinaliza-dor... O que você faz com um carro em suas mãos? O que você faz com
um status? O que você faz com o Alcorão ou a com a Bíblia em suas mãos? O que você
faz com uma palavra na ponta da língua? O que você faz com um filho na mão? Que
mal você faz para o outro, com uma causa boa que você defende?
Nada trará o menino Kevin Espada de volta. Mas a tragédia
deve nos fazer indagar: o que isso quer de mim?
Que seu nome me ajude a lembrar, que mesmo quando vejo
Espada no outro, ele não é inimigo, mas meu semelhante. No bem ou no mal, meu semelhante.